Eu ando por uma São Paulo que é pura contradição.
Sabemos que o Corona Vírus é um assassino silencioso, que pode nos atingir a qualquer momento. Talvez já tenha até atigido e não morremos. ]
Matamos.
Medo. Ódio. Paranóia.
Olhos febris que se entreolham como feras prontas para atacar. A tensão é palpável, quase visível. Todos são suspeitos. Todos inimigos.
Se a pessoa está sem máscara: Merece morrer!
Se saiu na rua: Merece morrer!
Eu ando por uma São Paulo que é pura contradição.
Quando você sai na rua, sente-se acuado, não saiu por que quis… A necessidade o impeliu. Os outros não. Saíram por que quiseram.
A doença expôs o pior que pode existir nos seres humanos. Se você fica em casa é trouxa, se sai é salafrário.
Ninguém confia em mais ninguém. Parentes nos traíram, trazendo a doença em suas saídas a rua. Políticos nos traíram, com suas mentiras.
A fé nos traiu.
As ruas de todo o Brasil, lotadas de gente sem máscara, por que o disseram que está tudo bem. Que agora todos estão seguros. Alguns poucos dias para se manifestar.
Depois de duas semanas, contaremos nossos mortos.
Eu ando por uma São Paulo que é pura contradição.
Todos estamos a um passo da morte, apenas isso é concreto.
(Texto desenvolvido para o desafio de prosa poética da Revista Villa das Palavras – seu comentário é muito importante)
Eu amei essa crônica, me vi andando por São Paulo, principalmente nos últimos tempos. Parabéns!
São Paulo sempre foi um pai hostil para seus habitantes.
Ficou pior, muito pior.
Obrigado pela leitura 🙂
Adoro suas poesias 🙂
De fato, a COVID-19 tem extraído o melhor e o pior das pessoas, evidenciando toda a humanidade que há em nós.
A crônica tratou do tema do ponto de vista das ruas de São Paulo, com bastante coesão, domínio e objetividade.
Show! Parabéns!!!
São Paulo é pura contradição sendo repetido no texto algumas vezes, traz a ideia de poética, como se fosse um refrão, porém, levando em consideração o sentimento do texto, seria melhor usar a palavra: grito. Outra detalhe que achei interessante foi a finalização, a palavra “concreto” sendo utilizado em um texto que “subjetivamente” fala de nossa selva de pedra, coloca a realidade que vivemos em um tom fantasioso e a morte, como algo palpável. Curti o texto